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Contra a agenda imperialista por detrás do separatismo no Brasil


Desde as época mais remotas, a extensão territorial de uma sociedade possui algum significado sentimental, como no caso dos indoeuropeus, que demarcavam território baseados no espaço em que seus antepassados eram sepultados [1]. Realmente havia alguma ligação que parecia ser justificada em si mesma, e não justificada por algum fator de utilidade. Contudo, o mero valor sentimental foi cada vez mais sendo amalgamado a um valor estratégico, seja este financeiro, militar, político etc. A datar de o império macedônico antigo, passando pelo colonialismo europeu moderno, chegando ao imperialismo americano contemporâneo, as sociedades passaram a buscar a expansão territorial não mais por motivos meramente sentimentais. Não se ama mais a terra, mas sim a utilidade estratégica que ela pode proporcionar.

No entanto, o expansionismo contemporâneo não se dá mais com a expansão física do território, mas agora com a expansão da influência militar; uma forma de exportar violência monopolizada sem ampliar o território até o local desejado. Por exemplo, em 2015, o Departamento de Defesa dos EUA informou que o número de bases militares americanas que tinham militares ou civis estacionados ou empregados consistia em 587 [2]. Isso significa que os EUA não precisam mais estender suas fronteiras para poder usar sua força, basta exportar bases militares. Ou seja, na prática, o expansionismo não cessou, apenas tomou uma forma mais implícita. Dado isso, qual seria a vantagem de um país se desmembrar em meio a essa conjectura imperialista? A quem não tem poder militar para competir resta a subserviência a quem possui. Essa condição é perigosa, pois deixar algum país se expandir sem qualquer potencial resistência implica em diminuição da autonomia nacional dos demais. Ainda mais quando se percebe que as relações internacionais possuem como superfície uma frágil camada sob a qual reside a iminência de guerra. Afinal, não existe nenhuma autoridade global que imponha ordem através de uma monopólio coercitivo superior. O plano internacional é anárquico e permanece em paz devido a simples vontade dos agentes. Em caso de guerra, sobrevive aqueles que têm maior poder militar, e ser favorável ao desmembramento de um país é abdicar de toda potencial segurança que um território maior pode proporcionar. Maior quantidade de membros nas forças armadas, maior raio de ataque, maior quantidade de espaço para deslocamento, recuo e reorganização etc, são todas vantagens que um território maior pode oferecer. Logo, não é de se espantar que as maiores potências militares mundiais -- EUA, Rússia e China -- também estejam entre os países com maior extensão territorial do planeta [3][4]. O desmembramento de um país é análogo ao desarmamento; o território é uma arma, que, embora não suficiente para definir um país como potência militar, auxilia a conquista para tal.

Dada essa ótica, faz-se necessário perguntar novamente: Qual a vantagem de desmembrar o território brasileiro? Por que desperdiçar condições geográficas que propiciam o incrível potencial de ser uma grande potência militar resistente ao imperialismo em meio à anarquia das relações internacionais? Não faz sentido algum optar pelo desmonte territorial de um país em meio a um ambiente mundialmente anárquico e imperialista cuja possibilidade iminente de guerra é constante. Porque, se não fosse iminente, os países sequer veriam necessidade em investir ano após ano em políticas de segurança externa. E, se o desmonte territorial não fosse algo relevante para a hegemonia internacional de uma superpotência, os EUA não teriam como objetivo a desintegração da Rússia, sua rival histórica, como revelou o ex-Secretário de Estado e Conselheiro Nacional de Segurança do EUA, Henry Kissinger [5]. Assim como não auxiliariam rebeldes sírios mesmo sabendo que isso pode levar ao desmembramento do país, como afirmou o ex-diretor da CIA, John Brenna, e como expressamente o analista político Ali al-Ahmed afirma ser o objetivo dos EUA contra a Síria [6][7]. A maior potência militar do planeta reconhece a importância da preservação do território nacional, por isso se preocupa em preservar o seu enquanto deseja o desmonte dos demais. É suicídio, portanto, os próprio cidadão de um país desejarem o desmantelamento do seu Estado. Como bem diz Lênin [8]:

"Há ainda, uma tendência da burguesia e dos oportunistas de converter um número de sua elite e nações privilegiadas em parasitas “eternos” no corpo de toda a humanidade, para descansar sobre os louros da exploração de africanos, indianos, etc., mantendo-os em sujeição com a ajuda das excelentes armas de extermínio fornecidas pelo militarismo moderno."

Em razão disso, movimentos separatistas brasileiros nada mais são do que servos de uma agenda contrária à sua proteção e favorável à hegemonia globalista do imperialismo americano. Isso vai além de um mero desarmamento, é uma total entrega de munição ao inimigo, que continua se alimentando da ingenuidade alheia e alongando cada vez mais seus tentáculos sobre Terra. É criar voluntariamente caos para si. É promover algo nocivo não só para a segurança externa do País, mas para a interna segurança interna também. Uma vez que, se um país não proporciona viabilidade constitucional para o separatismo, como é o caso do Brasil, que protege com cláusula pétrea a unidade dos estados-membros e criminaliza a tentativa de separação, a única forma de impor essa agenda é através de guerra civil [9]. Alguns poderiam dizer que isso é problema da Constituição Federal e que ela está errada. Mas a discussão não é se ela está certa ou errada, mas sobre o que as possibilidades reais quanto à separação ditam; e, na atual conjectura , a guerra, que não é nem um pouco desejável, é a única alternativa concreta para se alcançar a separação de um estado brasileiro. Ou seja, o separatismo é nocivo à própria paz que resta ao Brasil. A história mostra que não é sábio cutucar o Leviatã com vara curta em território brasileiro, dado seus sucessivos sucessos em suprimir revoltas separatistas ao longo da história, a exemplo da Guerra dos Farrapos, da Inconfidência Mineira, da Conjuração Baiana etc.

Ademais, se o pretexto das propostas de separação é fiscal, basta utilizarem vias constitucionais cabíveis para revisar o pacto federativo e lutarem, através de vias legais, por uma distribuição da arrecadação que considerarem justa. Fora isso, os únicos pretextos que sobram são os xenófobos travestidos de autodeterminação e apelo à liberdade. Liberdade completamente ilusória, uma vez que sua concretização depende de custos humanitários advindos de uma guerra, condição de maior supressão de liberdade. Nesse contexto, a verdadeira liberdade é lutar para superar as dificuldades federativas de forma pacífica em união aos demais entes, sem fomentar condições para uma guerra civil e sem promover o desmantelamento institucional que atenta à proteção externa do país e à resistência à hegemonia americana. O ideal comunista de fim das barreiras abstratas dos estados burgueses e de união apátrida dos proletários de todo o mundo é ainda algo a se buscar, porém, as condições materiais criadas pelo imperialismo ainda não permitem uma aplicação ingênua desse ideal. Por ora, se há desejo pelo separatismo, deve-se apoiar todo o separatismo que não seja no Brasil.

Bibliografia


Comentários

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  2. Eu poderia falar do quão errado é sentir-se com o direito de delimitar o quanto de liberdade outra pessoa tem direito a ter, poderia falar do quanto soa hipócrita falar em liberdade sendo que ao mesmo tempo que o fala não tem respeito ao que a própria pessoa pode fazer com sua propriedade ou dinheiro, mas você buscando transparecer uma aura de intelectualidade cometeu erros bem mais visíveis que não irei comentar quais são pelo simples fato de acreditar que os erros que cometemos são as melhores ferramentas para nosso crescimento pessoal. Respeito sua opinião, simplesmente não concordo com seus argumentos tendenciosos.

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  3. E quanto a autodeterminação dos povos? E quanto a Catalunha? E quanto ao Curdistão? Entendo que o movimento separatista brasileiro do Sul é extremamente racista e elitista, eu sou contrário à separação do Sul e repudio seus organizadores por isso, porém me questiono se é valido um comunista usar o argumento em favor de uma suposta paz que não existe. Afinal, a Revolução será feita com flores? Em relação à militar, eu me questiono o que pensam os cubanos que expulsaram o imperialismo de Cuba.

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